sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Atestado à Loucura


Na doença dos dias dada à patologia da vida
Eu me atesto à loucura

Me atesto à insanidade sóbria que os dados à arte logram
Ao ócio criativo e a predisposição para me arrebatar com frequência ao mundo da lua
Eu me atesto ao fantástico inegável da vida

Me atesto àqueles dias loucos que só
Às noites e suas alucinações gloriosas, ao ideário impelido aos boêmios
Eu me atesto às conotações das entrelinhas vitais

Me atesto às visões dadas como burlescas das mentes brilhantes
Aos contos e recontos que protagonizo
Eu me atesto ao deficit dos gênios

Me atesto às minhas próprias parábolas
Me encontro digno de acessar o templo dos versos
Eu me atesto a cantar as rimas não rimadas e a rimar os cantos não cantados

Me atesto a paragrafar as letras ainda soltas e não combinadas
A reproduzir o som ainda não harmonizado
Eu me atesto à simbiose das artimanhas literárias que não obedecem regras ortográficas

Me atesto a andar na chuva enquanto outros correm a um abrigo
A deitar ao sol enquanto todos reclamam sombra
Eu me atesto a sentir o cheiro, por as mãos, tirar os sapatos e sentir o chão

Me atesto à sinceramente sorrir de volta a uma criança que roubar meus olhos
Quero visitar Nárnia, Terabithia, o País das Maravilhas, a Terra do Nunca, os Campos Elíseos, o Céu, ou seja, lá como esse lugar verdadeiramente se chama
Eu me atesto apto a me relacionar com o etéreo

Me atesto aos beijos ensandecidos na chuva
Às manifestações dissimuladas de afeto
Eu me atesto ao amor em proporções imprudentes e desmedidas

Me atesto ao respeito pleno das idiossincrasias humanas
A perceber o absurdo de todos os dias
Eu me atesto à contemplação de tudo que me transcenda

Me atesto a ouvir melodias e reproduzi-las aos tantos
A marejar os olhos quando os sentimentos se afinarem
Eu me atesto a irmanar minha alma, corpo e espírito   

Me atesto a devagar sozinho sobre tudo
A visitar os bastidores desse espetáculo vital
Eu me atesto a conhecer o que há fora da caverna

Me atesto a poesia da vida que faz da realidade um mero palpite
A avidez infantil que brincar ainda me permite
Eu me permito à inconsequência de se expor de maneira demasiada

Me atesto a sinceridade inocente de um menino
E a selvageria estoica de um homem
Eu me atesto a paixões abruptas

Me atesto aquilo que não consigo explicar direito
Às viagens absurdadas e incompreendidas


Eu me atesto à loucura