quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

O-culto



O-culto

A madeira que toco, antes foi tronco que dançava seus galhos ao ritmo dos sopros de outono, como se festejasse seu objetivo bondoso de purificar o respirar, contudo antes foi semente, foi broto, foi fruto de outra arvore dançante.

O trabalhador que a partiu, louvou com seu labor, com sua performance diária e precisa, imbuído em extrair o pau e do pau o pão suado.

O desenhista projetou o instrumento e louvou com seu planejamento, sua engenharia e o estabelecimento do som, timbre e satisfação da expectativa musical comum. 
Ao finalizar o desenho sorriu de prazer, teve orgulho de si, de sua engenhosidade.

O artesão, por sua vez, executou o projeto, louvou com seu esculpir, como se pudesse tanger com seu mestrado, ouvir as notas ao polir, lixar, envernizar, pintar, modelar, beneficiar a madeira bruta, lapidada até sua obra final e nessa sinfonia maluca, brincou de tornar perfeito algo que não o era “aos olhos”,  algo "aos olhos" ainda bruto, mas que já trazia  perfeição em seu ventre, perfeição que suas mãos artesãs ousaram desvendar.

Hoje de manhã, determinei o calibre das cordas e o preparei para seu fim sublime: honrar o empenho de tudo e todos. Decidi tanger uma canção antiga, depois decidi compor algo, pois ao refletir sobre tudo, só consegui encontrar a plenitude desse culto oculto.

Quero compor uma obra justa, por isso te peço, querido violão caridoso, me deixas ouvir o som das folhas ao vento, que eu sei que ainda conservas dentro de ti, que embalou a todos, que mexeu com tudo, que me toque também.