domingo, 13 de julho de 2014

Sobre as Torrentes



Se essas águas não me cabem, que abundem, 
que transbordem minhas represas, que arrebentem contra as rochas do meu peito e que o vapor dessas quedas orbitem minhas extensões mais espúrias, 
espero ao cheiro das águas brotar nova vida.

Que inundem minha casa e destruam meus bens paupéries, que encharquem os ismos, os conceitos, os preceitos e os preconceitos. Que molhem esse eu, solo, seco, tantas vezes infértil, que me desabriguem do ego e redimam as poças e charcos amargos que minam desse velho coração. 

Que lavem a cosmética e emanem até verter o imaculado todo e destilado, que encham e levem o estéril, que ao remir o deletério reste apenas um afluente sincero, desaguando ao mundo uma nova criatura.


Eu espero após o rigor da enchente sentir o cheiro da vida, perceber a brisa suave e as poças e charcos da felicidade.

quinta-feira, 10 de julho de 2014