Se essas águas não me cabem, que abundem,
que
transbordem minhas represas, que arrebentem contra as rochas do meu peito e que
o vapor dessas quedas orbitem minhas extensões mais espúrias,
espero ao cheiro
das águas brotar nova vida.
Que inundem minha casa e destruam meus bens paupéries,
que encharquem os ismos, os conceitos, os preceitos e os preconceitos. Que molhem
esse eu, solo, seco, tantas vezes infértil, que me desabriguem do ego e redimam
as poças e charcos amargos que minam desse velho coração.
Que lavem a cosmética e emanem até verter o
imaculado todo e destilado, que encham e levem o estéril, que ao remir o
deletério reste apenas um afluente sincero, desaguando ao mundo uma nova
criatura.
Eu espero após o rigor da enchente sentir o
cheiro da vida, perceber a brisa suave e as poças e charcos da felicidade.